Introdução ao Planejamento Financeiro – Parte 4/4

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Investindo

Por Roberto Sprengel Minozzo Tomchak

Introdução

Agora que entendemos, nos textos anteriores dessa série, o conceito de “perfil de investidor” e os principais tipos de investimentos que existem, está na hora de saber como escolher os ativos corretos.

Ao investir, o foco deve ser a proteção e a expansão do patrimônio, nessa ordem. Ou seja, não é investindo que iremos nos tornar ricos, mas sim é possível dar uma proteção sólida ao nosso capital contra crises e contra a inflação, por exemplo, e acelerar o crescimento do nosso patrimônio no longo prazo.

Assim, nossa escolha de qual ativo investir será baseada no objetivo desejado, o nível de risco tolerável e o conhecimento do mercado, sendo esses dois últimos diretamente relacionados com o perfil de investidor.

Existem 3 características principais de um ativo que devemos considerar para decidir se aquele é o investimento certo ou não:

  • Rentabilidade: o retorno do ativo. Pode vir na forma de dividendos, ganho de capital ao vender o ativo, retorno ao vencimento do prazo, entre outros. Pode ser usada para ter uma renda constante, crescer o patrimônio ou protegê-lo contra uma possível crise.
  • Liquidez: é a velocidade e facilidade com que um ativo pode ser vendido e convertido em caixa. Quanto maior a liquidez, mais fácil e rápido é recuperar um montante investido. Ao investir, é importante considerar se existe a possibilidade de precisar recuperar o montante aplicado no curto prazo, o que pode não ser possível (ou pode ser arriscado) a depender do tipo de investimento.
  • Risco: a probabilidade de perder parcialmente ou integralmente o montante investido. Existem vários tipos de riscos, como risco de liquidez, de crédito, entre outros. Todo ativo possui risco, o que muda é o tipo e o nível dele. Diversificar o seu patrimônio diminui as chances de sofrer grandes perdas, já que assim você não está completamente exposto a somente um tipo de risco. Portanto, para todos os objetivos que iremos apresentar a seguir, lembre-se de não ter todo o seu dinheiro aplicado em um só tipo de investimento.

Principais Metas Financeiras

Agora, iremos falar dos principais objetivos que podem ser alcançados com investimentos, bem como quais ativos podem ser mais interessantes para cada meta.

Reserva de emergência

Imagine que você perca seu emprego de repente e não possua nenhuma outra forma de renda. Quanto tempo você seria capaz de sobreviver até encontrar outro trabalho? Aí está a importância da reserva de emergência: ela consiste num dinheiro reservado com o objetivo de ser utilizado no caso de imprevistos, como demissão, emergências médicas e problemas na família. 

Por isso, aqui queremos um ativo que tenha baixo risco e alta liquidez, onde a rentabilidade não deve ser prioridade, ou, em termos mais “diretos”, não importa. Uma opção é o Tesouro Selic, pois, como é um título emitido pelo governo, é um dos ativos com menor risco de crédito (isto é, é extremamente improvável que o governo deixe de pagar os títulos), além de que ele sofre poucas variações do mercado, ou seja, é pouco volátil, e tem boa liquidez. Em relação à própria liquidez, basta estar atento que, no momento em que esse texto é publicado, não é possível acessar recursos aplicados no tesouro no mesmo dia, tendo o Tesouro Selic especificamente a liquidez de D+1 dias úteis, ou seja, ao solicitar o resgate de seu capital, você só terá acesso a ele no dia útil seguinte, o que pode ser um problema caso você necessite de dinheiro por conta de uma emergência em um final de semana ou feriado, por exemplo. Para se proteger dessa situação, você pode inclusive diversificar a reserva de emergência, mantendo uma parte na conta corrente do seu banco, por exemplo, que tem liquidez imediata (você acessa o dinheiro a hora que quiser), e outra no Tesouro Selic.

A quantia específica que deve ser separada para a reserva de emergência varia, mas ter em torno de 6 a 12 vezes os seus gastos mensais é uma boa referência. Por exemplo: se seus gastos mensais são de R$2.000,00, é indicado ter uma reserva de emergência com algum valor entre R$ 12.000 e 24.000. 

Independência Financeira

Independência financeira consiste em ser capaz de lidar com todos seus gastos mensais, e ainda ter uma sobra, apenas com renda passiva, que seria aquela não proveniente de trabalho ativo, de esforço. Parece uma ideia estranha não ter que trabalhar para obter dinheiro, mas é justamente esse um dos maiores objetivos dos investimentos: fazer o dinheiro trabalhar por você.

Dito isso, busca-se um investimento que pague dividendos ou juros periodicamente e que possua um baixo risco de “cancelar” esses proventos de uma hora pra outra. A liquidez nesse caso não é prioridade, já que o objetivo é ter renda, e não ganhar com a venda ou vencimento do ativo. Existem 3 principais ativos para alcançar a independência financeira:

  • Tesouro IPCA ou Prefixado com juros semestrais: nesses tipos de títulos do Tesouro Direto, todo o rendimento obtido semestralmente é retornado ao investidor. É a opção mais “segura” das apresentadas aqui;
  • Fundos imobiliários (FII’s): são a opção mais comum para obter rendimentos constantes. Os FII’s funcionam da seguinte forma: um gestor ou administrador capta dinheiro na Bolsa de Valores, e então investe esse capital em imóveis e propriedades, como prédios comerciais (escritórios), shoppings, galpões logísticos, em títulos de crédito (no caso dos FII’s de papéis), ou mesmo em cotas de outros fundos imobiliários, e então remunera os cotistas com no mínimo 95% de todo o lucro semestral (a maioria dos FII’s paga rendimentos mensalmente). Ou seja, você receberá um rendimento enquanto houver lucro, seja ele obtido de aluguéis de imóveis, ou em ganhos de capital em compras e vendas de imóveis (ou cotas de outros FII’s), ou em rendimentos de operações de crédito. Assim como as ações, eles são uma opção de Renda Variável, então são mais voláteis e imprevisíveis (no curto prazo) do que o Tesouro Direto.
  • Ações pagadoras de dividendos: basicamente, ao comprar ações de uma empresa, você se torna sócio dela, garantindo o direito de receber uma parcela de seus lucros, caso a gestão da empresa opte por fazer essa distribuição. Diferentemente dos FII’s, as empresas não são obrigadas a pagar dividendos para seus acionistas, sendo então necessário estudar o funcionamento e modelo de cada empresa. Contudo, muitas empresas listadas da bolsa de valores pagam bons dividendos, geralmente porque seu modelo de negócio não depende tanto de reinvestimentos dos lucros, ou porque a gestão não encontrou uma destinação mais atrativa para os lucros em determinado período. Empresas do setor de energia são um bom exemplo disso. Contudo, vale lembrar que esse rendimento não é necessariamente mensal (muitas vezes é trimestral), e a empresa pode acabar parando de pagar dividendos ou diminuir o valor pago. Isso pode ocorrer por vários motivos, como uma crise financeira ou uma decisão da empresa de diminuir os dividendos para reter mais lucros, e assim, poder fazer novos investimentos.

Apesar de parecer um objetivo muito atraente, é importante lembrar que chegar num capital que te trará renda suficiente para superar seus gastos mensais pode ser complicado. Para explicar esse ponto, vamos a um exemplo:

Considerando um custo de vida mensal de R$5.000,00, e que seja realizada aplicação em fundos imobiliários com cotas que tenham um valor médio de R$100,00 e paguem em média R$0,70 por cota (dizemos que ela tem um dividend yield mensal de 0,7%), seria necessário ter aproximadamente R$ 700.000 (setecentos mil reais) investidos para pagar o seu custo de vida mensal apenas com os proventos recebidos.

O valor pode assustar bastante a maioria das pessoas, mas é importante entender que não se trata de algo absurdo. Usando o mesmo exemplo: com aportes mensais de R$700,00 e reinvestindo os dividendos obtidos (utilizando a renda paga pelos fundos para comprar mais cotas desses mesmos fundos), seria possível alcançar a meta de R$ 700 mil investidos, e ter a renda mensal de R$5.000,00 em 25 anos. É um prazo longo, mas plenamente possível de alcançar mantendo a disciplina. É por isso que ter uma consistência nos investimentos, como explicado no texto 2 dessa série [colocar link aqui] é tão importante.

Reinvestir os dividendos cria um efeito “bola de neve”, alavancado pelos juros compostos. Uma hora chega o ponto em que os dividendos (sejam mensais, trimestrais..) são suficientes para comprar muitas novas ações ou cotas de fundo, que vão gerar mais renda, que vão possibilitar a compra de mais ativos, e assim, chegar mais rápido à meta. No exemplo anterior, se não houvesse o reinvestimento dos dividendos, mas sim apenas a aplicação dos R$ 700,00 mensais, o prazo para atingir o objetivo comentado passaria de 25 para 85 anos. Ou seja, o simples fato de reinvestir os proventos recebidos, nesse exemplo, pouparia ao investidor 60 anos de trabalho e aportes.

Aposentadoria

Cada vez é mais complicado se aposentar cedo, mas os investimentos podem ajudar nesse sentido. A ideia aqui é bem simples: deixar um dinheiro investido, para que no longo prazo ele se torne um grande montante graças aos juros compostos.

Por isso, queremos um ativo com grande rentabilidade, o suficiente para superar a inflação. O risco deve ser baixo no longo prazo, mas no curto prazo a volatilidade dele não importa, bem como a liquidez não é uma preocupação, já que ele só será recuperado após um longo tempo.

Uma opção que possui baixo risco é o Tesouro IPCA +. Essa opção do Tesouro Direto garante rentabilidade acima da inflação, além de existirem opções com prazos bem longos. Se o título escolhido é o IPCA+4%, ele terá uma rentabilidade real de 4% a.a., ou seja, não importa o quanto o real se desvalorize, o seu poder de compra irá subir 4% anualmente, estando esse investimento protegido da desvalorização da moeda.

Outra opção de ativo são as ações de crescimento. Elas recebem esse nome pois são ações de empresas que têm o seu foco em expansão, em aquisições, investimentos, fazendo assim a empresa crescer exponencialmente, o que pode gerar lucros futuros maiores do que hoje, e, consequentemente, valorizar as suas ações. Além disso, boa parte dessas empresas possuem reajustes nos seus produtos conforme a inflação, logo a sua receita no longo prazo também fica protegida da desvalorização da moeda.

Existe ainda uma terceira opção bem interessante, que são os ativos reconhecidos como “reserva de valor”. Eles possuem esse nome porque seu valor tende a se preservar ou até a aumentar no longo prazo. Ativos escassos, como o ouro, são o melhor exemplo disso. Enquanto moedas como o real e o dólar tendem a se inflacionar, e assim perder o seu valor no decorrer do tempo, o ouro tem apresentado valorização real (acima da inflação). 

As criptomoedas, são uma novidade nesse assunto de reserva de valor, e apesar de não terem sido provadas pelo tempo, elas também podem representar uma boa alternativa para o futuro. O Bitcoin, por exemplo, não é controlado por nenhuma instituição ou governo, e, assim, a sua quantidade é limitada, não podendo ser inflacionada pelo excesso de disponibilidade de bitcoins no mercado, ao contrário do que acontece com as moedas comuns.

Proteção contra crises

Apesar do Tesouro Direto ser considerado um investimento muito seguro, ele não é garantido. Problemas com o governo de um país, crises financeiras e inflações acima do normal são situações recorrentes no nosso país, e é essencial ter o seu patrimônio protegido nesses cenários.

Nesse sentido, a melhor forma de lidar com uma crise dentro do Brasil é procurar investimentos no exterior.

Os ativos escassos (ouro, criptomoedas, etc.) mencionados anteriormente são também uma das formas de lidar com essas crises, já que suas cotações não dependem diretamente do desempenho econômico brasileiro, sendo ativos globais.

Outra opção são as ações estrangeiras. Aplicar dinheiro em um ETF do S&P500 (fundo de ações do índice das maiores empresas dos Estados Unidos), por exemplo, expõe o investidor a uma economia muito mais sólida do que a brasileira, com uma carteira de ações de empresas que geram receita em praticamente todos os países do mundo.

Conclusão

Nesse texto foram apresentadas algumas das principais metas a se ter em mente quando for investir, além de diversas possíveis opções de investimentos a depender dos objetivos pessoais de cada um. É importante frisar que nenhuma destas garante dinheiro fácil, mas podem trazer segurança e conforto que não seriam possíveis obter se não investíssemos nenhum capital. Lembre-se sempre de fazer o dinheiro trabalhar para você, e não apenas trabalhar por dinheiro.

Essa série sobre planejamento financeiro encerra aqui. Agradecemos imensamente pela atenção, e desejamos bons investimentos a todos!

Este material foi produzido pela Liga de Investimentos e Finanças UFPR com o propósito de informar, contribuir e educar, a Liga de Investimentos e Finanças UFPR não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações aqui divulgadas, o material representa o estado do mercado na data da publicação, sendo que as informações estão sujeitas a
mudanças sem aviso prévio.
O presente material não tem o intuito de garantir que o conteúdo apresentado será uma estratégia efetiva para os seus investimentos e, tampouco, que as informações poderão ser aplicadas em quaisquer condições de mercados. O leitor não deve utilizar as informações disponibilizadas como substitutas de suas habilidades, julgamento e experiência ao tomar decisões de investimentos ou negócios.

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